Era meio-dia e meia quando os dois chegaram. Encostaram-se no muro, próximo do largo portão. O mais velho arriou sua forma de isopor na calçada, no que foi imitado pelo mais novo. Logo a carícia no ombro marcado pelo náilon. Ficaram ali, atentos aos que entravam. E como mais de uma hora se passou desde que chegaram, dividiam um picolé. De repente o mais velho cutucou o outro.
- É aquele ali!
- Qual? Aquele?
- Sim, quem mais? Esse mesmo, de flor na orelha e jeans. O imortal. Ih! Disfarça, ele tá olhando pra cá! Quer ver se alguém lhe segue. Puxa! Demos sorte, mesmo!
- Não acredito! Tem certeza de que é esse? Eu juro que não acredito! E acho que não quero mais ver... Vamos embora?
- O quê?! Desistir agora, depois de tudo?!
- Desculpa, mas acho que tô com medo...
- Não te preocupa. Ele não faz mal a ninguém. É sabido demais para machucar alguém. Dizem que tem dois mil e quinhentos anos.
- Quem diz?
- Ah!, não lembro! Dizem por aí.
- A história da água?
- Sim. A história da água... Ele bebe a si próprio. Sempre. Por isso não morre. Olha!, tá virando a esquina que dá para o horto. Vai ser agora! Pshh! Vem, vamos lá. Vamos ver. Não vais acreditar. Eu também não acreditei quando vi a primeira vez.
- Tô tremendo. Acho que não vou conseguir olhar. Vou fechar os olhos.
- Não! Abre! Olha lá! Não falei? Ele tá se engolindo... Meu Deus!
Enquanto o imortal se engolia, os meninos, perplexos, vomitavam o picolé.
11 comentários:
(este texto lembra Machado de Assis...)
Será que os que bebem de outras águas determinam sua mortalidade?
Esta história tem moral... a pensar.
Carinhos meu amigo
Surreal, meu caro.Um conto na linha do fantastico.
hábraços
Estranho como Poe. E bom.
Recebi seu comentário no Blog do Reitor da UniPiaget. Moisés Moreno realmente é um dos nossos docentes, embora neste momento não esteja no activo. Nunca se convenceu a usar a ferramenta do correio electrónico pelo que não tem endereço de e-mail.
Vou procurar saber de seu paradeiro.
Saudações
PS: sendo das Filosofias, talvez goste de outro Blog em que participo: http//transcv.blogspot.com
Excelentes histórias! Muito obrigado.
Edilson, acredito que o fato de ter sido publicada na Internet, mesmo que só em parte, impede que uma obra seja considerada inédita. Pelo menos no concurso "Conto do Rio" é assim.
, intrigante seu texto.
, boa sorte com "o homem do farol"...
|abraços meus|
já decidiu se vai participar do concurso?
obrigado pela visita ao vomitando.
Oi querido!! Delícia de narrativa. Eu lembrei da Simone de Beauvoir em seu "Todos os homens são mortais"...
Contudo estou aqui matutando sobre essa autofagia das águas... muito simbólico.
Beijo.
Acredito que também nós, vamos nos "bebendo" a cada dia. AbraçoDasGerais.
Olá!
Já estive com Moisés. Ficou muito feliz e pede para ligar-lhe para o nº
(238)2621949
um abraço
Jorge
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