sexta-feira, janeiro 18, 2008

SALMO 151


Gravura de Osvaldo Goeldi encontrada na internet
Quando virou a esquina o homem se desconheceu. Evidentemente, não pensou em dar um ou dois passos atrás. Ter-se-ia reencontrado, caso o fizesse. Mas sua nova condição não lhe permitiu, sequer, o raciocínio de retroceder. Então, ante o absoluto da novidade, ansiou, ímpeto inconsciente, por quem o tomasse pela mão. Ora - e isto ele também já desconhece -, mas não foi justamente para estar só que dobrou a esquina? E agora, ante ruas mal-iluminadas,  cachorros e gatos de beco, insetos de esgoto, automóveis, prédios e gente apressada, o homem, ato instintivo, despe-se e, como se fosse um nadador profissional, submerge noite adentro...

sábado, janeiro 05, 2008

UMA ESTRANHA PONTE


Porque um sujeito falaria algo inteiramente fora de propósito a seu interlocutor?
Ambos conversavam sobre castores, essa história de esconder pinhas e depois não lembrar o lugar, etc.
Terá sido por isto, por uma espécie de osmose do esquecimento [de pinhas por castores], e o sujeito esqueceu o assunto?
Às verdadeiras razões ninguém jamais chegará. É que os dois, após o despropósito, enlouqueceram. O interlocutor, pelo esforço supremo para entender o amigo. Este, ato contínuo, ao ser absurdamente recriminado pela própria consciência em decorrência do dito.
Agora, toda a cidade, que não os compreende, embora os conheça bem, vê ambos a caminharem sempre juntos, ruas e praças afora, como dois grandes amigos que se desconhecem.