quinta-feira, setembro 06, 2012

O OITAVO DIA


No princípio era Silêncio... 

Sete dias sobre a Terra. Na Terra. Nela. Um com Ela. Sono profundo.  Sonho inacreditável... 
Sonhou-se terra. 
Era a própria terra a Sonhar-se. Escura. Úmida. Una. Tudo Ela. Ela, todas as coisas dormentes. A Terra em sono profundo. Em sonho a sonhar-se...
Então, o sonho da terra trouxe mãos. E as mãos entraram na Terra. Rasgaram. Dor indizível. As mãos a rasgarem a Terra. Abrirem a Terra. Uma porção da terra as mãos tiraram. E à porção as mãos amassaram. E a porção da terra sonhava-se amassada nas mãos, entre os dedos, a formar-se sonho. E a porção da terra era Ele. 
Era?!
Sete dias sobre a terra Ele sonhou-se Terra. Terra primitiva. Terra sonhada pelas mãos que ele sonhava. No alto da montanha, a olhar o abismo aberto sob os pés, Ele se pergunta: Era?
Terrível, o sonho. Terríveis, as mãos. 
Mãos de fogo. Ágeis. Rudes. A moldarem o barro. E o barro virou-se cabeça. Virou-se pernas. Membros. Órgãos. E as mãos a moldarem mãos. Mãos de sonho... Mas então acorda. 
Dormira? Outro sonhar diante de si? Ou pesadelo?  Não sabe dizer. Posicionar-se ante tantas imagens. Reconhece de pronto, não obstante, tudo muito amplo. Sua capacidade com as imagens. Amplo. Algum tipo de lembrança? Própria? Inventada? Não sabe dizer. Posicionar-se ante as imagens. Diante de si a mão do cirurgião-robô dá o último enter para a configuração de seu novo cérebro. Cérebro eletrônico. Sintético, como também é agora sua pele. 
O gesto do cirurgião lhe provoca breve tontura, após a qual vê, ao lado da mesa cirúrgica, o cérebro orgânico recém retirado. Encontra-se revestido por um tecido transparente e comprimido numa espécie de tubo de ensaio cujo rótulo, também eletrônico, mas ainda em branco, aguarda catalogação.




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