domingo, setembro 23, 2012

DE ONDE VÊM OS FANTASMAS


Como o rosto que riu além da anedota e agora precisa voltar ao blasé, nós, que quase passamos da estupefação ao bocejo em poucos séculos de marcha da ciência sobre o Mistério, temos hoje o desafio de não deixar a expressão cair de vez. É preciso ainda ver sentido na ciência. Nossa luta agora é contra o Tédio. Então, homem de meu tempo, guardião de nossa máscara de Monalisa, é com boa expectativa que de minha janela, binóculo regulado, foco os velhos telhados lá em baixo. A ciência quer avançar sobre eles (sobre os fantasmas que lá brincam em dias de sol). Só lhe falta pequeno passo. Uma equação em teste por cientistas do MIT, a envolver matemática, física, ótica e um quê de solidão (a quantificação deste é o que ainda lhe resiste – até quando?) pretende explicar porque fantasmas preferem velhos telhados para orgias. Dizem (na verdade não dizem e tive que supor tudo sozinho) que quando diversos fatores de luz, temperatura e solidão se combinam, o fenômeno ocorre. Pode acontecer mais de uma vez no ano ou demorar eternidades entre uma vez e outra. Mas se algum dia o sol não está tão quente e o céu nem tão claro e se o vento não é mais que morna brisa, e se, além disso, algum solitário os olha do alto, então poderá ver, às nove e meia, fantasmas (nada discretos!) a se reproduzirem sobre velhos telhados. São nove e vinte e nove. A condição subjetiva me parece ideal. Lá fora, salvo engano, tudo de acordo. Se todas as variáveis realmente se combinam, então logo-logo terei boa dose de anti-tédio.

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