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Fotografia de Edilson Pantoja |
“Acho que não.”
Mesmo assim ela sentou-se a meu lado na mureta que deixava nossos pés a mal tocarem a grama. Não disse mais nada. Eu também não disse. Apenas olhei na direção oposta. O vento agitou as árvores, de leve, antes de chegar a nós. Derrubou folhas. Quando passou, era todo café fresco. Pensei no caldeirão de ferro em que se torrava café. Vi mulheres em dupla à beira do pilão, o pu-pu-pu alternado das mãos de pilão. O vai-vém de ancas e saias sob a cantoria secular vinda do Maranhão. Revi o cafezal que rodeava a casa de meu avô. Ouvi-lhe a voz grave num ralho pleno de anteontem. Andei de novo à sombra das mangueiras do caminho. Pensei em pães quentes, manteiga derretida, e flechas de malva... Desconheço em que ela terá pensado. O certo é que ficamos, por todo o resto das horas, a ver o sol deslizar vermelho sobre a baía.
Nossas mãos tocam-se sobre a mureta. Nossos pés roçam a grama. A noite caiu de pára-quedas. Veio só. Se quisesse, bem poderia trazer consigo o fim do mundo...
10 comentários:
A noite sempre trás sonhos... quando termina tras o comeco de um novo
Que momento esse.
Tão perfeito que até recolhe aromas do tempo.
Doce demais sentir-se assim, Edilson.
carinhos
, mãos que tocam e sentem o aroma de café...
, "A noite caiu de pára-quedas." é magistral...
, abraços meus.
LINDO demais esse texto!!!
Só uma coisa:aconteceu mesmo?
rs
Já me pesa
Nas pálpebras que tremem o oco medo
De nada ser, e nem ter vista ou gosto,
Calor, amor, o bem e o mal da vida.
(Pessoa)
Estive algum tempo longe -daqui- e agora vim ver-te.
Bom e triste. Melhor, talvez : nostálgico.
um abraço
Geraldes de Carvalho
Que se passa, meu amigo ? Há já bastante tempo que V. não nos dilicia com um dos seus belos textos .
Um abraço
Geraldes de Carvalho
Caramba!
Em qual livro eu leio o resto?!
meu amado amigo...me sinto leve sempre que leio seus belos textos...saudades...tiese junior.
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