 |
Imagem retirada da internet e manipulada |
Quando acordei o homem de sobretudo preto me olhava num ar interrogativo e paciente. É curioso que sua interrogação se mesclasse àquela paciência, mas foi esta minha impressão. Tomado pela surpresa, fechei os olhos. Contei até dez. Abri. O homem ainda estava lá. Não mais assim, tão perto. Recuara até o canto da parede. Era de onde, a mesma mescla de humor, ainda me olhava. Agora, caramba!, como digo isso? Bem, não é que ele estivesse escorado à parede... Ele estava
na parede. Ele
era a parede. Ou pelo menos um com ela. O sobretudo e o chapéu pretos - o corpo e a cabeça do homem - acompanhavam as linhas escanteadas. O homem era o próprio canto. As metades do seu corpo perpendiculares de fora a fora, a reta no meio, como as duas paredes. Fechei o olho e dessa vez cheguei a cem. Abri, mas o fiz diretamente para o teto. Só aos poucos deixei a vista descer até me deparar com o bico do chapéu. Putz!, ele ainda estava lá. Atinjo agora a casa dos oitocentos e cinqüenta e, sinceramente, não sei o que fazer se, chegando aos mil, abrir os olhos pela terceira vez e ainda me deparar com esse louco.
6 comentários:
as vezes nem adianta contar, tem que encarar, quem sabe travar um diálogo e saber qual a participação deste personagem em tua história. Só fiquei curiosa em saber qual a temperatura no quarto durante a aparição...rss
Abração Edilson
Putz! Digo eu, quantas linhas andei perdendo. Vou levá-las para ler em casa, outra vez. Boa Páscoa para você e os seus. AbraçoDasMInas.
Volto aqui depois de longo tempo, e sinto sua técnica mais definida, mais elaborada... Não posso deixar de temer ver o homem de sobretudo, se tiver que fechar os olhos...
abraço:
camilo
Excelente!
sobretudo, ainda que num abrir e fechar de olhos, jamais perder o tempo de temer-se... 1 grande abraço.
Talvez fosse um espelho!
Estou de blog novo: www.nopasseiopublico.com.br
Há braços!
Antônio Alves
Postar um comentário