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Chalé do senador Antônio Porphirio, em Icoaraci - Imagem retirada da internet |
A história do chalé meu pai inventou pra mim. Eu perguntara ao ver, primeira vez, o chalé, o cata-vento enorme no quintal: “Pai, quem mora nessa casa?”. E ele, o jeito sério com que sempre me inventava histórias, falou de D. Quixote, de Sancho Pança, do cavalo Rocinante, da princesa Dulcinéa. Das aventuras do cavaleiro contra os moinhos de vento, enfeitiçado por Malfatto. Nos fundos do chalé, o último dos gigantes, justamente aquele que D. Quixote domesticou. Meu pai não existia!
Papai viveu o mito da geração beat. Tinha a imaginação solta, coisa que se esforçou para me deixar como herança. Falava de Kerouac como de um amigo íntimo. Citava passagens, descrevia cenas de On the Road. Coisas que só entendi bem depois que ele se foi, depois que me tornei íntimo de sua pequena biblioteca. Foi quem me revelou a fonte de suas histórias, de seu muito fantasiar, da herança intencionada... Como na vez em que, a misturar Kerouac com Cervantes, e mais o que sua liberdade imaginava, tomou o Rocinante de brinquedo que me dera, e a fingir uma Harley Davdson, a quem acelerava pelas orelhas, saiu com essa: "... e escondeu um punhado de cânfora no tanque de sua Harley". Meu pai não existia!
Coisas que vêm à luz com a queda do velho chalé. Com a resistência de um certo gigante...
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P. S.: Dedicado a Diovvani Mendonça, poeta que muito admiro, e que me falou do concurso da Revista Piauí para o qual compus este conto. Infelizmente, o prazo já se tinha esgotado. A intenção, contudo, não tem prazo de validade. Grande abraço, Diovvani! Fica também a dica para o concurso, que é mensal. Confiram!
11 comentários:
Belíssimo conto, Edilson. A representação da queda do chalé como a extirpação de um pedaço de infância foi uma tacada de mestre. Isso somado ao impenetrável Dom Quixote deixou seu texto deliciosamente rico.
Abraços
Antônio Alves
Como comprar seu livro?
Meu caro
Que V. goste de Cervantes é absolutamente natural porque é ele, agora do vagabundo Kerouac me espanta um pouco pois me parecia, bem, não me parecia , Mas deixe lá, comigo acontece exactamente a mesma coisa .
Obrigado pela sua visita . É sempre muito apreciada.
E já agora permita-me uma pergunta.
Conhece a Djamília de Tchinghis Aitmatov? Se conhece certamente gosta muito desse maravilhoso livro. Verdadeiramente encantador no sentido mais profundo : Que nos enfeitiça... ou mais.
Bom, um abraço
gdec
Justo hoje quase comprei um catavento. Mas, por ele ter voado, desistí. Em catavento que se deixa derrubar, em vez de mostrar a direção do vento, não levo fé. Pode que seja muito emocional (tal como eu). E eu, quase tenho certeza, viajei como este teu pai, quem sabe ao (ou no) mesmo tempo que ele.
carinhos pra ti querido Edilson
PS1: vez em quando sigo rabiscando imagens... por vício, por prazer e sem compromisso...
Te deixo o link.
PS2: prazer imendo saber que amigos que admiro sejam amigos também. Salve Dio e Edilson. Torço por suas vitórias nos caminhos que proseiam!
Obrigado, meu amigo! Me lembro que enviei o e-mail para você, no dia 29 e você respondeu no mesmo dia - com o conto já escrito. Pô, nem acreditei que fosse tão rápido. Sinto-me honrando com a dedicatória. Você, é para mim, gigante das letras. AbraçoDasMontanhas.
Olá Edilson! Obrigada pela sua visita ao meu cantinho! Coloquei aqui pra vc o novo endereço, aquele q vc visitou é o antigo! Bjokas!!!
Alguns adoráveis pedaços de pedra caem, mas os imemoráveis castelos imaginários sempre irão resistir às intempéries do esquecimento.
Edilson, já saiu o mote para o novo concurdo da Revista Piaui. Se puder dê uma olhada lá. AbraçoDasMontanhas.
Há um covite para si no meu blog
gdec
Mano mas que delicia esse teu blog. estou encantada com teus contos e vou já te agregar a mim para nao perder nenhum!!!!
Muito, muito obrigado pelos seus votos.
É claro que eu sabia que V. estava bem longe ainda que eu já estive aí bem perto... em Fortaleza. Também estive no Recife em S. Salvador em Belo Horizonte e no Rio : Na verdade passei 5 semanas nesse país espectacular e ainda dei um salto a Buenos Aires . Pena tenho que, verdadeiramente, apenas tenha sido uma lambuzadela desse país imenso. Enfim talvez um dia eu volte mas há tanto mundo ...
Um abraço
gdec
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