sábado, julho 25, 2009

VERTIGEM E SIGNIFICAÇÃO

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No que respeita ao homem, cujo ser é sempre em perigo, só o abismo, a queda e a vertigem não são idiossincrasia. O conjunto das idiossincrasias atende por nomes como história, cultura, realidade... Mas o abismo, a queda e a vertigem não são idiossincrasia: são absolutamente. E, no entanto, dado tal absoluto constituir o perigo que espreita e engendra especialmente o ser do homem, Ele não é, como para o idealismo tradicional, um em si e para si, mas um em mim e para mim do homem. Não obstante tal intimidade, o homem tende a silenciar ou desconversar sobre o abismo e a queda. Seu objetivo, contudo, não é guardar segredo: é negá-los, graças à vertigem que o desespera. Sob tal pathos, o homem se entrega então, num poético desvio de olhos, à história e seus correlatos. Almeja com isto um resgate. É pois nesta vã esperança que consiste a ilusão, e não propriamente na história e seus correlatos. Estes, enquanto idiossincrasia, e enquanto poiésis, não pertencem ao campo do que se costuma chamar “não-ser”. São, antes, sintoma ou signo de um modo especial de despencar: modo decorrente do revirar de olhos, que, todavia, está ligado à ameaça de não ser.

domingo, julho 19, 2009

VERTIGEM E SIGNIFICAÇÃO

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Cair no precipício é próprio do homem. Este cair não se expressa como sujeição à lei da gravidade. O precipitar-se da pedra, que por alguma causa se desprendeu da montanha, não tem a ver com o do homem. Para este, o cair não resulta de um desprendimento, de um soltar-se do meio protetor: tem a ver com o ser sempre em perigo. Nascer é cair. A queda é sem resgate ou transcendência. Ante ao cair assim descrito o homem sente-se mal. A vertigem gera ilusões. Resgate e transcendência têm muitos nomes e sentidos. Ilusão é o significado último de todos eles. Ilusão é paliativo pelo qual o homem fecha os olhos à queda. É como diz a si mesmo: “Não olhe para baixo!

quarta-feira, julho 08, 2009

VERTIGEM E SIGNIFICAÇÃO

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Milênios de artefatos materiais, mito, arte, religião, filosofia, ciência e vulgaridade: ilusões do pintor que tira pincéis da própria carne e tintas do próprio sangue. Mas, carne e sangue, não é ele mesmo quem, sabe-se lá por que via de milagre, fabrica? E para quê? Para, obsessivo, esfregar na tela arredia a qualquer cor!